Folha de S. Paulo a 2,60 euros e muitas reflexões

Doeu, doeu no fundo do meu coração (e do bolso também, claro), mas tive que comprar a edição internacional da Folha de S. Paulo hoje com a capa da operação Satiagraha.

Se você é leitor português ou simplesmente um brasileiro alienado, a operação da PF (Polícia Federal) prendeu, simultaneamente, o banqueiro Daniel Dantas - um dos mais influentes empresários do pais -, o investidor Naji Nahas - que tem em seu currículo relações com o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, o atual rei da Arábia Saudita e o presidente italiano da Pirelli - e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, além de doleiros, laranjas e empresários.

Confesso que estava com saudades de ler um bom jornal. Mais que um bom jornal, um jornal brasileiro. Claro que acompanho as notícias via internet, mas não é a mesma coisa. A sensação de ler o jornal impresso, de poder folhear as páginas e poder reparar em questões como a diagramação, fonte e coisas que só estudantes de jornalismo e profissionais reparam, é insubstituível. Saudosismo puro, mas saudosismo confesso!

Apesar de ter pagado 2,60€ no jornal (algo cerca de R$ 6,50) e ele ser todo em preto e branco e ainda por cima impresso em um papel de péssima qualidade - parece quase um papel de fax, só que mais grosso -, não me arrependo em nada. A edição está excelente, as páginas sobre o caso são muitas e muito bem escritas, a apuração e o planejamento muito bem feitos e um jornalismo de dar gosto de ser brasileiro depois de tanto tempo convivendo com o jornalismo português.

Sem contar os editoriais, a seção de tendências e debates, as colunas, as charges, os painéis... Enfim, tudo o que me agrada muito na Folha. Não suficiente, ainda guardo-a em minha coleção pessoal de jornais-souvenirs!

Daqui em diante ou a coisa realmente explode e muitos políticos correm sérios riscos - e não apenas de um ou outro partido, mas de deputados federais e senadores do PT, PSDB, DEM, PR... - ou então o jeitinho brasileiro dos nossos políticos vai conseguir abafar o caso. De tudo isso, uma certeza: a PF tem dado exemplo nestes últimos anos de competência e como é possível combater a corrupção, seja ela interna (a PF do Rio que o diga!), seja externa.

Face à todo acontecimento, lembrei-me da entrevista que Daniel Dantas deu à revista Piauí no ano passado - naquela que foi uma das melhores reportagens que já li na vida, sem qualquer hipérbole. Ao ser perguntado se temia algum adversário, político ou econômico, Dantas saiu-se, entre risos, com essa: "só da PF".

Dejá vù.