quinta-feira, 5 de junho de 2008

Entrevistando Gustavo Kuerten em Copa Davis

Sei que esse post ficou imenso, mas valeu a pena te-lo escrito. Só espero que gostem (ou, pelo menos, leiam-o até o fim e façam críticas). Encorajado pelo meu amigo, ex-professor e jornalista Rodrigo Faraco, resolvi escrever um post sobre o dia em que entrevistei Gustavo Kuerten. Não foi a típica entrevista exclusiva que um dia almejo realizar, mas foi, sem dúvida,um acontecimento marcante na minha vida e na minha “carreira” jornalística universitária.

7 de abril de 2007. O Brasil enfrentava o Canadá pelo Zonal Americano da Copa Davis em Florianópolis. Gustavo Kuerten e André Sá entravam em quadra em situação confortável para enfrentar a dupla Daniel Néstor e Frank Dancevic na quadra principal de saibro do Costão da Santinho. No dia anterior, Ricardo Mello tinha derrotado o mesmo Franc Dancevic por 3 sets a 2 (6/3, 6/7, 6/3, 6/3 e 11/9) em um jogo de quase 5 horas, abrindo 1 a 0 para o Brasil no confronto.

No mesmo dia, Flávio Saretta iniciou o confronto contra Frederic Niemeyer, mas a partida teve que ser interrompida por causa da chuva. O jogo foi reiniciado apenas no dia seguinte, antes do jogo de duplas, e Saretta conquistou o 2° ponto para o Brasil vencendo por 3 a 1 (6/4, 6/7, 6/2 e 6/1).

O jogo de duplas era, sem dúvidas, o mais aguardado. Guga já não era o Gustavo Kuerten de outros tempos, mas não deixava de ser a estrela da festa. As duas (há quem diga que foram três) cirurgias no quadril o impediam de disputar o circuito profissional como antes, vencendo torneios e competindo com qualquer tenista do mundo, e as vitórias eram cada vez mais escassas, mas todos estavam lá para ver o manezinho da ilha em ação. O carisma e a energia de Gustavo Kuerten são impressionantes. É, sem dúvidas, nosso maior ícone esportivo desde Ayrton Senna. Já o admirava antes, mas vê-lo pessoalmente foi uma experiência sensacional.

Naquela época André Sá não era um jogador tão bom e experiente em duplas como hoje, depois da bem sucedida parceria com o também brasileiro Marcelo Melo, e Daniel Néstor, do Canadá, era o 5° melhor do mundo no ranking de duplas da ATP (Associação de Tenistas Profissionais). A partida não seria fácil. Mesmo com todas as dificuldades, os brasileiros empatavam em 1 set a 1 quando o juiz interrompeu o confronto por falta de luz natural. O desfecho ficaria para o domingo, último dia de competição.

Foi então que eu e meu então professor Rodrigo Faraco resolvemos sair da arquibancada e tentar pegar algum depoimento dos jogadores na saída da quadra. Eu fazia a disciplina de Jornalismo Esportivo com ele, que havia conseguido três credenciais para a cobertura da Copa Davis para os alunos da cadeira. A chance era imperdível e, claro, participei dos três dias da cobertura.

Além de nos orientar, Faraco estava cobrindo o confronto da Davis para a rádio CBN/Diário. Ele começou sua carreira jornalística na rádio quando ainda era estudante da mesma UFSC onde hoje dá aulas e, mesmo posteriormente tendo mudado para a TV COM, também da RBS, atacava de jornalista de rádio de vez em quando. Há poucas semanas o Faraco realizou seu sonho: voltou à CBN como comentarista esportivo sem deixar os programas que comanda e apresenta na TV COM.

Estávamos do lado de fora da quadra colhendo os depoimentos do capitão brasileiro Francisco Costa quando eu percebo uma movimentação anormal entre a multidão que se reunia em frente à saída da quadra. Quando olho, Guga está saindo rapidamente para evitar o assédio e vem em minha direção. Deu tempo de avisar o Faraco, que estava finalizando seu boletim ao vivo para a CBN, e corremos atrás do Guga. O Faraco conseguiu entrevistar Gustavo Kuerten, ao vivo, na saída da quadra. Foram 3 minutos que conseguimos acompanhar Guga da porta da arena até o carro que o esperava na saída do Costão. Claro que não ia atrapalhar meu professor, que estava realmente trabalhando, mas consegui pegar toda a entrevista com o meu gravador.

A Marianna Vasconcelos, fotógrafa também formada em Jornalismo na UFSC que eu já citei em um post aqui no blog, estava cobrindo o confronto para o jornal Notícias do Dia. Para a minha felicidade, ela conseguiu nos fotografar segundos antes do Guga entrar no carro que o esperava. Tudo bem que a minha cara não é das melhores, mas o que vale é a fotografia como documento histórico! A culpa não é dela por eu ser feio.

Guga voltou à quadra na manhã de domingo ao lado de André Sá, mas eles não conseguiram parar a dupla canadense e acabaram perdendo por 3 sets a 1 (4/6, 6/3, 6/4 e 7/6). O confronto agora estava em 2 a 1 e Flávio Saretta entraria novamente em quadra para tentar fechar o confronto. O canadense Franc Dancevic não havia se recuperado do extenuante jogo contra Ricardo Mello e o jovem Peter Polansky, de apenas 19 anos, foi escalado para o confronto.

Saretta venceu novamente por 3 a 1 (1/6, 6/2, 7/5 e 6/1) e deu a vitória ao Brasil, que nos credenciava a disputar repescagem do grupo mundial em setembro daquele ano. Chico Costa havia aproveitado que o confronto estava sendo realizado no Brasil para convocar vários tenistas jovens para observá-los e colocá-los em contato com a competição, mesmo que nenhum fosse participar dos jogos.

A idéia foi muito boa para dar experiência para os tenistas, mas acabou tendo um efeito colateral: os jogadores brasileiros acabaram exagerando na comemoração, até pela falta de experiência, e acabaram sujando toda a quadra. Com isso, não houve possibilidade de realizar o 5° e último jogo e uma coletiva foi marcada.

Na coletiva, consegui fazer pergunta para todos os tenistas brasileiros – Gustavo Kuerten, André Sá, Flávio Saretta e Ricardo Mello –, além do capitão Chico Costa. Terminei meu final de semana extremamente feliz e com o sentimento de dever cumprido, não sem antes de desobedecer meu professor: o Faraco disse que deveríamos manter a postura profissional e não ficar de tietagem para cima dos tenistas. Como o clima era de festa e descontração, aproveitei a oportunidade para garantir duas fotos, uma com o Ricardo Mello e outra com o Saretta - apesar dele ser palmeirense e ter reclamado do meu boné.



Contextualizando:

O Brasil enfrentou a Áustria pela repescagem do grupo mundial, em Innsbruck, entre 21 e 23 de setembro. Acabou derrotado por 4 a 1 e teve que disputar o Zonal Americano este ano novamente, em abril, quando enfrentou a Colômbia em Sorocaba e venceu por 4 a 1, garantindo novamente o acesso à repescagem do grupo mundial. Após sorteio, ficou definido que o Brasil enfrentará a Croácia entre 19 e 21 de setembro, em Zadar.

As chances brasileiras de aceder ao grupo mundial é quase nula, mas esta atualização que fiz tem um propósito, além da evidente contextualização do episódio: Foi em Innsbruck, na Áustria, que Thomaz Bellucci fez sua primeira partida defendendo o Brasil em um confronto de Copa Davis. Belluci enfrentou o austríaco Jurgen Melzer e acabou derrotado por um triplo 6/4. Este ano, no duelo contra a Colômbia, ele foi novamente um dos tenistas a jogar as partidas de simples.

Não suportou o nervosismo da estréia na sexta, 11 de abril, e perdeu para o colombiano Santiago Giraldo por 3 sets a 2 (6/7, 4/6, 6/3, 6/4 e 6/2) após ter aberto 2 sets a 0. Mesmo com a derrota, o Brasil virou para 3 a 1 e garantiu a vaga. Bellucci ainda fez o 5° jogo contra Juan-Sebastian Cabal e conseguiu sua primeira vitória em confrontos de Copa Davis ao fazer 6/4 e 7/5 sobre o colombiano.

Foi nessa partida que o brasileiro iniciou sua série de 18 vitórias consecutivas – conquistando os challengers de Florianópolis, Tunis e Rabat em três semanas – que só foi interrompida com a derrota nas oitavas-de-final do challenger de Bordeaux contra o sul-africano Vik de Voest. Como eu já disse no post que fiz sobre o jovem tenista brasileiro, Bellucci não é o “novo Guga”, mas é, sem dúvidas, a nova promessa do tênis nacional.

As sete primeiras fotos foram por mim com a minha pobrezinha e limitada Sony DSC-P72. As duas últimas (excelentes) fotos são do Márcio Nel Cimatti e foram copiadas do Flickr dele. Clique aqui para ver a primeira foto, do Bellucci jogando, e a aqui para o link da segunda, em que Bellucci e Guga se entreolham. Os créditos são do fotógrafo e da Folha Imagem.

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4 comentários:

Unknown disse...

Aooo monstrinho Krek krek, parabens! pena que o Guga tem o joelho todo fodido, porque esse cara era bom.

Rodrigo Faraco disse...

è meu caro Lucas...o texto tah ótimo, o relato tah ótimo e o momento foi inesquecível pra mim também ...como jornalista e como professor

pode ter certeza.

abração

Unknown disse...

Bela entrevista luquinha!!! Mando muito bem, li e gostei muito !!! Ta ficando importante em muleque !!! Saudade de você maninho !! abração e se cuida

sampaio disse...

Quem diria...meu filhao, saindo em
fotos com celebridades e tambem
entrevistando, li também a toda a
reportagem e ficou otima, parabens
filho vc. esta trilhando o caminho
certo e eu cada vez mais orgulhoso
de ter um filho como voce... Pai!!!