quarta-feira, 28 de maio de 2008

Expresso, mais um bom jornal de Portugal

Que o jornalismo daqui não é dos melhores, isso eu já venho dizendo desde o começo do blog (em meados de fevereiro). Mas não é só de piadas brasileiras, obviamente, que os portugueses vivem, e é por isso que os bons exemplos devem ser ressaltados.

Acabei de conhecer o Expresso. Lembro que já me disseram que "os melhores jornais daqui são o Público e o Expresso", mas nunca tinha lido o segundo.

A ótima notícia - além de descobrir outro bom jornal para ler - é que descobri uma sala da FCSH (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) - para os que não sabem, é onde "estou a fazer" intercâmbio estudantil - onde o jornal é distribuído gratuitamente. A edição vem em uma sacola e, logo na capa, traz o aviso: "exemplar para distribuição nas universidades, venda interdita". É só chegar e garantir o seu antes que acabe. Idéia muito boa que deveria ser seguida pelos grandes jornais do Brasil.

Diferentemente do Público (e da maioria dos outros jornais pagos e gratuitos), o Expresso é semanal. Sai todos os sábados e gostei muito dos textos, das pautas e da diagramação. Claro que o Expresso não é a oitava maravilha do mundo, mas perto de jornais pagos como o Diário de Notícias e o Correio da Manhã, ele é excelente.

O Expresso estampa na capa um símbolo da Sociedade Pelo Design de Notícias (em tradução livre de Society For News Design) por ter ganhado no ano passado o título de "O Jornal com o Melhor Design do Mundo" (World's Best Designed Newspaper).

Eles dão tamanha importância ao título (acredito que no Brasil o destaque não seria tão grande) que o selo aparece em destaque acima do próprio logotipo do semanário. Sua diagramação é realmente muito boa, com letras muitos leves, de agradável leitura e uma diagramação muito acima dos seus concorrentes.

Há selos também para aprofundar reportagens do jornal. Algumas matérias têm selos como "Leia mais www.expresso.pt", "Veja a fotogaleria www.expresso.pt/fotogaleiras" ou ainda "Veja o dossiê sobre o tema www.expresso.pt/dossies".

O Expresso chega a ter - pasmem - infográficos. Sim. Por mais incrível que isso possa parecer, infográfico é uma coisa que os outros jornais portugueses devem desconhecer, porque é a primeira vez que vejo um. O Expresso chega a cometer a heresia de fazer um infográfico de meia página, em página ímpar, sobre esgrima e ainda por cima colocar o selo "Visite o blogue da Infografia www.expresso.pt/blogues". Coincidência ter ganho o prêmio de melhor design?

Aqui, quando há uma matéria sobre um show nos outros jornais, por exemplo, não há qualquer infográfico (ou sequer um box) que informe onde será o show, quando, quanto custam as entradas e onde podem ser adquiridas, etc. Quando há uma matéria sobre uma pesquisa, os únicos dados a que você tem acesso são os que o jornalista escolheu para seu texto. Infográfico com os principais dados e conclusões da pesquisa, nem pensar.

Quando uma tempestade invade a Birmânia e mata milhares de pessoas, a ajuda da ONU não chega e o ocidente fecha os olhos para o acontecimento, nem um humilde infográfico para informar onde fica a Birmânia (ou todos sabem responder onde a Birmânia fica de cabeça?), quantos habitantes tem, qual a sua bandeira e nome oficiais, qual a sua capital e detalhes tão básicos que deveriam constar? É realmente difícil imaginar um jornalismo sem infográficos. O prejuízo é visível.

Enfim, o Expresso é um jornal que realmente me surpreendeu. Já estou há mais de três meses aqui e continuo a aprender coisas sobre o país, o que é muito bom. Recomendo um "passeio" virtual ao site do jornal, principalmente pelas seções especiais e selos que citei acima.

Várias pautas já surgiram ao ler a edição do último sábado, 24 de maio. Transformarei-as em posts ao longo da semana, com o devido crédito ao jornal. O site do Expresso não é tão bom quanto o semanário impresso, mas é uma boa maneira de se dar cobertura às hard news e está acima da média dos outros jornais portugueses, à exceção do Público, sem sombra de dúvidas.

Em tempo: a Birmânia deles é, para os brasileiros, Mianmar. Nada como o Wikipédia.

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